quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Análise: JACKIE CHAN - O MESTRE DO KUNG FU



Vocês se lembram de um post recente sobre capas picaretas de filmes de kung fu? Na ocasião eu disse que a maior "vítima" era o astro Jackie Chan, sempre colocado em destaque nas capas dos filmes mesmo quando ele faz apenas uma participação. Lembram disso? Pois é...



Jackie Chan - O Mestre do Kung Fu é seu filme mais recente nas locadoras. Na capa, pra variar, o astro aparece em destaque, em trajes típicos de época, sugerindo um filme "old school" ou wuxia... O título nacional também remete a um de seus filmes antigos mais importantes, O Jovem Mestre do Kung Fu que Jackie estrelou e dirigiu em 1980. A tradução literal do título original, Procurando Jackie ou à Procura de Jackie (Looking for Jackie), seria bem mais condizente com a história. O filme até começa bem, com Jackie enfrentando a famosa "Gangue do Machado" (celebrizada em diversos filmes, como A Vingança do Kung Fu, O Mestre Invencível 2 e Kung Fu-São) em um vilarejo. Logo vemos que se trata de um set de filmagem, com Jackie fazendo o papel dele mesmo.

É a partir daí que começa a história propriamente dita, e é onde o caldo entorna... O real protagonista é o jovem Zhang, um adolescente fã de Jackie que quer conhecê-lo para aprender kung fu e responder as provocações de seus colegas, que zombam dele por ele estar em dificuldades nos estudos (condição, aliás, merecida, já que o moleque não quer saber muito de estudar). Ao ser mandado para Pequim para estudar sob a tutela de sua avó, ele acredita que esta é sua grande chance de se encontrar com o ídolo, já que o astro está na cidade para uma série de trabalhos. Ele sai que nem doido, procurando Jackie sem a menor noção, cruzando com diversos tipos, e se metendo em várias confusões (e quase matando seus avós de preocupação, já que não avisa aonde vai). O filme é bobinho, bobinho, com Jackie tentando dar uma lição de moral nas crianças que não estudam e não respeitam os mais velhos. Tem algumas lutas? Até tem, mas decepcionantes se considerarmos que é um filme de Jackie Chan.

Esse filme merece estar no gênero filmes picaretas... Fazer o quê...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Análise: PLANETA DOS MACACOS - A ORIGEM




Planeta dos Macacos - A Origem, não é uma refilmagem do original de 1968 (com Charlton Heston), muito menos do equivocado remake de Tim Burton. O filme, um dos destaques de 2011, é uma espécie de prelúdio da saga. Pouco importa para o grande público que filme clássico de 1968 tenha gerado quatro sequências, desenhos animados, série de TV e uma infinidade de produtos relacionados.



Para melhor situar o leitor, antes de partir para a resenha propriamente dita do filme, vamos traçar um panorama geral sobre a saga comentando brevemente os filmes anteriores (com alguns spoilers).



Planeta dos Macacos foi uma produção ambiciosa para a época, mostrando um grupo de astronautas (liderados por Charlton Heston) caindo em um planeta inóspito dominado por macacos falantes (em um primoroso trabalho de maquiagem premiado com um Oscar - na época em que a categoria sequer existia!) que subjugavam humanos primitivos. Na surpreendente sequencia final, Heston se depara com as ruínas da Estátua da Liberdade, atestando que apenas viajara no tempo e que o Planeta dos Macacos seria simplesmente o futuro de uma Terra devastada por uma guerra (possivelmente nuclear). Com o sucesso veio a inevitável sequencia, De Volta ao Planeta dos Macacos, em que outro astronauta procura o grupo do primeiro filme e encontra, além dos macacos, uma sociedade de humanos mutantes vivendo nos subterrâneos e adorando a imagem de um Deus (na verdade um míssil nuclear!). No final, uma explosão nuclear acaba com tudo. Ou não, já que um casal de macacos escapa para protagonizar o terceiro filme, Fuga do Planeta dos Macacos (um dos meus favoritos da franquia). Os símios aterrisam na Terra contemporânea e tornam-se celebridades, até que são perseguidos e mortos. Seu filho, César, entretanto, sobrevive. É claro que ele é o mote do quarto filme, Conquista do Planeta dos Macacos. Devido a um vírus, cães e gatos são extintos e substituídos por macacos, tratados como bichos de estimação e escravos. César, já crescido e capaz de falar, lidera uma rebelião (o filme atual seria uma refilmagem deste). O quinto filme, Batalha do Planeta dos Macacos, situa-se um mundo já dominado pelos símios e liderados por César, culminando em uma batalha não apenas contra os humanos sobreviventes, mas também entre os próprios macacos. Em 2001, Tim Burton tentou uma nova abordagem, realizando sua própria versão do primeiro filme. Claro que a maquiagem e os efeitos especiais foram infinitamente superiores, mas o roteiro equivocado e confuso sofreu duras críticas, apesar do bom desempenho nas bilheterias.



Tanto pelo peso da saga original quanto pelo resultado duvidoso do remake de Tim Burton, causou estranheza quando Planeta dos Macacos - A Origem foi anunciado. Ainda mais quando foi revelado que todos os macacos seriam digitais, inclusive o protagonista, César (um trabalho magnífico de captura de movimentos do ator Andy Serkis, o mesmo que deu vida a Gollum e King Kong).



O co-protagonista (ou principal papel humano) é o cientista Will Rodman (James Franco), que pesquisa uma droga para combater o Mal de Alzheimer (que, não por acaso, acomete o pai, vivido por John Lithgow). Após um teste mal-sucedido com uma chimpanzé fêmea, Will acaba levando para casa César, o filhote da macaca, e o cria como filho. César demonstra ser muito mais inteligente que macacos normais (e até do que alguns humanos). Não tarda para ele ser considerado uma ameaça e ser mandado para um centro de primatas. Neste momento o longa se torna um "filme de prisão", totalmente dominado pelos macacos digitais. O filme gasta o tempo necessário para desenvolver a personalidade de César e mostrar como ele lidera a rebelião dos primatas. Além do protagonista relutante que vira o líder da revolução, temos o aliado brutamontes (um assustador gorila), o antagonista (o chimpanzé cinzento que liderava o local anteriormente) e até o mentor sábio que dá conselhos (um simpático orangotango), arquétipos conhecidos dos filmes de ação que ganham suas versões símias de maneira brilhante e convincente. O clímax na ponte é de cair o queixo, embora o final seja um tanto quanto inconclusivo (uma clara deixa para continuações). Uma dica: não deixe a sessão logo que os créditos começarem...








Sabendo do legado da saga, o diretor Rupert Wyatt equilibra drama e ação, mas não esquece dos fãs dos filmes originais, plantando diversas referências que a maioria da platéia provavelmente nem vai perceber. A primeira é o nome do protagonista, César, que também batizava o protagonista do quarto (Conquista) e quinto (Batalha) filmes da franquia original. Sua roupa vermelha lembra os uniformes dos macacos escravos em Conquista. O produtor dos filmes originais, Arthur Jacobs, é homenageado ao batizar o dono do laboratório onde Will trabalha. Charlton Heston faz uma aparição quase imperceptível em um programa de TV. Além disso, referências a uma nave tripulada em direção a Marte remete ao grupo de astronautas do primeiro filme. Até a Estátua da Liberdade, talvez o maior ícone do filme original, é lembrada em um brinquedo de César. Uma cena comentada pelo pai de César no terceiro filme (Fuga) a respeito do início da revolução é reproduzida com maestria (só uma palavra: "Não!!!"), demonstrando o respeito dos realizadores com as obras originais.



Apesar de previsível, Planeta dos Macacos - A Origem supera as expectativas ao entregar uma obra que equilibra ação, drama, perda, traição, paternidade e ética. Talvez esta última seja o maior mote do filme. Se o filme original era uma alerta à corrida nuclear, o novo longa avisa: mesmo em nome da ciência, não brinque com a Natureza...