quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Análise: KICK ASS - QUEBRANDO TUDO


Adaptação cinematográfica da HQ de Mark Millar e John Romita Jr., KICK ASS tem sido vendido como um "filme de super-herói", já que este já virou um gênero próprio (e bem-sucedido). Na verdade, tanto o filme quanto a HQ retratam uma "desconstrução" do mito do super-herói, um assunto que por si só já faz parte da cultura pop há muito tempo. Como o seriado Heroes e a cultuadíssima Watchmen, KICK ASS responde a pergunta "o que aconteceria se pessoas comuns vestissem roupas colantes e agissem como heróis e vigilantes mascarados?".

O protagonista é Dave Lizewski (Aaron Johnson), que apesar de alto e meio corpulento, é um zero à esquerda quando o assunto é popularidade e mulheres (incluindo Kate, uma gata pela qual ele é apaixonado - e ignorado). Um típico nerd viciado em HQs, Dave decide vestir um uniforme colante (na verdade, uma ridícula roupa de mergulho comprada na internet) e, armado com dois bastões (que ele não tem a mínima idéia de como usar), se intitula Kick Ass e decide combater o crime!

Na primeira tentativa, ele toma uma surra federal e é atropelado, indo parar no hospital. O que era para ser um estímulo para ele desistir acaba sendo uma vantagem, pois ele sai do hospital cheio de placas de titânio pelo corpo e com maior tolerância à dor. Logo na segunda tentativa, ele defende um rapaz em uma briga de gangues, e é filmado por celulares, cujas filmagens vão parar no You Tube. Logo, Kick Ass vira uma febre nacional! Dave é obviamente inspirado em Peter Parker (o Homem Aranha), um adolescente tímido que se vê diante de habilidades especiais e tem que decidir o que fazer com elas, ao mesmo tempo em que tenta conquistar o coração da garota que ele ama. Se ele consegue? Assista o filme e confira!

Paralelamente, o filme conta a história de um pai e uma filha pouco convencionais. Logo em sua primeira aparição, o pai (Nicolas Cage, mais canastrão do que nunca) atira na filhinha de onze anos (Chloe Grace Moretz, a melhor coisa do filme), e ela gosta! Treinada para ser uma mini-máquina de matar, ela é parceira do pai em um plano de vingança contra um chefão do crime, D'Amico (Mark Strong). Inspirados pos Kick Ass, eles assumem as identidades de Hit Girl e Big Daddy (com um uniforme claramente inspirado em Batman) para combater o crime. As cenas de ação protagonizadas pela garotinha são arrasadoras, as melhores do ano até agora.

As coisas complicam quando os destinos de Kick Ass, Hit Girl e Big Daddy se cruzam, principalmente pela entrada de outro "super-herói", Red Mist (Christopher Mintz-Plasse), que é ninguém menos do que o filho de D'Amico, querendo impressionar o pai. No clímax ultraviolento (como todo o filme), heróis e vilões têm que tomar decisões, lados são escolhidos e destinos são selados. Sem revelar mais, basta dizer que o final é um gancho para a inevitável continuação.

KICK ASS definitivamente não é para todos os gostos. Consumidores típicos de filmes de super-heróis provavelmente não vão apreciar o filme adequadamente, devido à violência extrema, embora por vezes caricata. KICK ASS é sobre as escolhas que fazem de alguém um super-herói (ou um super-vilão); é um retrato violento da cultura de hoje (em que, graças à internet e às redes sociais, anônimos ficam famosos); é também sobre o que um filho (ou uma filha) é capaz de fazer pelo amor incondicional ao pai. KICK ASS é, acima de tudo, cinema pop na veia!