M.Night Shyamalan é um dos poucos diretores que se tornaram uma marca. Além dele, apenas Steven Spielberg, Quentin Tarantino, Martin Scorcese, Clint Eastwood e James Cameron estão no mesmo nível, em que o nome no cartaz do filme ganha tanto destaque quanto os atores. Em toda a sua filmografia, Shyamalan segue a mesma fórmula: roteiros instigantes com uma inesperada reviravolta no final (os famosos plot twists). Corpo Fechado, de 2000, seguia a mesma cartilha, apostando nos filmes de super-heróis antes do gênero virar febre mundial. Fragmentado, de 2017, surpreendeu a todos revelando, na conclusão, que fazia parte do mesmo universo de Corpo Fechado. Assim, VIDRO acaba de ser lançado com a difícil tarefa de fechar a trilogia com o mesmo sucesso de crítica (e público, claro) que os dois filmes anteriores. Será que conseguiu?
O filme se passa logo após os eventos de Fragmentado, com Kevin (James McAvoy) e suas múltiplas personalidades sequestrando um grupo de adolescentes para servirem de sacrifício à Besta, sua mais poderosa e violenta identidade. David Dunn (Bruce Willis) está em seu encalço, e o encontro dos dois resulta em uma cena de ação empolgante já no início do filme, coisa rara nos filmes de Shyamalan (com exceção dos filmes mais impessoais do diretor, como O Último Mestre do Ar e Depois da Terra). Os dois são detidos e mandados para um hospital psiquiátrico, sob os cuidados da Dra. Staple (Sarah Paulson), que já trata de Elijah Price (Samuel L. Jackson) ou Sr. Vidro, preso desde os eventos de Corpo Fechado, há mais de 15 anos. O objetivo da psiquiatra é convencer os três de que sofrem um distúrbio mental e que não passam de seres humanos normais, sem super poderes.
À medida que a doutora tenta convencer os protagonistas (e a plateia) de que todos os extraordinários feitos dos filmes anteriores têm uma explicação científica, o filme culmina para o embate entre David, a Fera e o Sr. Vidro. James McAvoy (a exemplo do que fez em Fragmentado) dá um show de interpretação, alternando entre suas várias personalidades. Muitas vezes percebemos quem é a identidade que assume apenas pelo olhar e expressão corporal! Samuel L. Jackson teoricamente é o grande protagonista, já que dá título ao filme. Entretanto, no primeiro ato fica em estado catatônico, ganhando destaque só no fim do segundo ato. Bruce Willis, apesar de ser o herói, acaba sendo o mais apagado do roteiro.
Como em todos os filmes de Shyamalan VIDRO aborda temas como família, fé, redenção e acontecimentos extraordinários no mundo real. E como é ambientado em um universo de super-heróis, brinca o tempo todo com os arquétipos do gênero, como o herói, os vilões (tanto o capanga musculoso quanto o Mastermind), as fraquezas e, principalmente, os sidekicks, os companheiros/ajudantes, representados aqui por Joseph (Spencer Treat Clark), Casey (Anya Taylor-Joy) e a Sra.Price (Charlayne Woodard). Um recurso utilizado pelo diretor para a construção (e descontrução) dos arquétipos e clichês dos super-heróis é o uso de flashbacks e até cenas não utilizadas dos filmes anteriores. Os enquadramentos inusitados, tão característicos de seus filmes, são menos utilizados aqui, já que o diretor apela mais para as cenas de ação e menos para o suspense, principalmente no terceiro ato.
E se o público espera um plot twist no final, Shyamalan nos brinda simplesmente com TRÊS reviravoltas na conclusão. Se vai agradar a todos, é difícil dizer, mas pelo menos o indiano naturalizado americano conseguiu concluir seu universo cinematográfico de super-heróis de uma maneira instigante que só ele seria capaz. Cada um que confira o filme e tire suas próprias conclusões!
Por hoje é só!
Até a próxima!